DECIDI FALAR QUE TE DESEJO

Decidi falar que te desejo, mesmo correndo o risco de parecer louca…

— Olá, quem é? — Ele, imediatamente chamou-me pelo direct do Instagram. Eu tinha acabado de criar aquela conta exclusivamente para dizê-lo o quanto o desejo. Depois de tê-lo adicionado, logo ele me adicionou de volta e já falou comigo. Senti meu coração acelerar, só pela possibilidade de falar com ele: mesmo ele nem tendo ideia de quem eu fosse naquele momento. Como eu poderia desejá-lo tanto?

— Oi. Sou alguém que você conhece, mas que está com receio de se mostrar nesse momento, por medo do que você possa fazer.

— Não estou lhe reconhecendo. Poderia enviar uma foto para eu saber se a conheço?  

— Depende, você é casado? — Resolvi ir devagar, eu não sabia muita coisa sobre ele. Se ele era casado ou tinha namorada. Apesar de ter decidido falar sobre meus desejos, aquilo parecia uma loucura.

— Não. — Respondeu-me direto.

— Gostaria de falar algo com você.  Algo que me tira o sono e me perturba todos os sentidos. — Perdi a noção de “ir devagar” e tentei iniciar uma conversa baseada no assunto que eu queria realmente falar. 

— Senhorita Lana, poderia me enviar uma foto? — Ele insistiu.

— Não posso me revelar agora, meu querido Miguel Matheus Fernandes. — Eu estava ficando mais apavorada, a cada minuto, por isso tentei mostrar que o conhecia ao falar o seu nome completo. Mas, isso só o assustou.

— Estou desfazendo a amizade.

Fiquei perplexa. Poxa, ele foi curto e grosso.  Ao pensar nisso, pensei que em meus sonhos Miguel não era curto, mas sim, com certeza, era grosso. As lembranças sobre as noites quentes que passei com ele em meus sonhos estavam voltando com força para minha cabeça e reverberando pelo meu corpo, cada sensação daqueles momentos.

Passado o nervosismo daquele momento, respirei fundo e verifiquei se estava bloqueada por ele e para a minha surpresa, e alegria, não estava. Ele ainda podia ver minhas mensagens então, sem mais pensar muito para não desistir, comecei a escrever um pouco do tanto que eu queria falar para ele.

” Miguel, prometo que depois de falar mais um pouquinho do que quero, te deixarei em paz.

Gostaria de poder conversar sobre tudo isso que sinto, com você. Foi uma decisão um tanto difícil, mas decidi falar que te desejo. Não irei lhe fazer mal, meu querido Miguel. Não sou uma má pessoa. Sou uma pobre mulher tomada por desejos por você. Desejos insanos que nem eu compreendo, mas que tomam conta de mim, dos meus sonhos.

Garanto a você que nos conhecemos. Nos vimos pessoalmente uma vez e algumas (muitas) vezes nos falamos por telefone. Você é tão educado. Transmite uma paciência inspiradora. Tão dedicado ao que faz. Se me recordo bem, acho que já te falei isso, ou algo parecido. Queria que Deus tivesse me dado o dom de escrever poesia. Uma romântica, seria perfeita para catalogar todas as suas qualidades, aquelas que já conheço de fato, e as demais que habitam sua forma em meus sonhos. Ah, Miguel…pareço uma louca, não é?! Rsrs…ai ai.

Você deve estar se perguntando: quem é essa louca pervertida me perturbando? Ou talvez, você imagine quem eu sou. Ou talvez já tenha certeza. Confio em você sabia?! Acredito que você não me faria mal se já soubesse quem eu sou. Ou faria? 

Já tem um tempo que não nos falamos por telefone. Foi bom para mim, consegui te tirar um pouco da minha mente. Falar com você era um martírio, às vezes me desconcentrava do que estava fazendo e só absorvia a sua voz, sentindo as sensações que ela causava em meu corpo. Quando voltava à conversa, era difícil retomar o fio da meada.

Talvez você percebesse o meu embaraço. Eu sei! Isso é loucura. Mas você acha impossível? Não é, tá! Você não faz ideia do quanto te acho excitante com o seu jeito de falar, o tom da sua voz…seu sotaque…eu imaginava o movimento dos seus lábios enquanto o ouvia. Imaginava como seria tê-los tocando os meus. Depois — até dormir —, tudo ficava bem.

Mas era depois de dormir que você me fazia a mais desejosa das mulheres. Sua voz não estava mais tão distante, e eu podia sentir cada parte do seu corpo em minhas mãos. Suas mãos me tocavam arduamente me deixando cada vez mais necessitada por senti-lo. Rapidamente eu ficava muito excitada e, você me torturava com seus dedos pelo meu corpo. Seu beijo era profundo, quente…

Confesso que algumas vezes, principalmente nos dias depois dos sonhos mais torturantes, eu evitava falar com você. Arranjava uma desculpa para que minha assistente o atendesse, adiando nossa conversa. Às vezes, eu ficava tão sensível que só em ouvir a sua voz, mesmo com aquele barulho horrendo da ligação, eu ficava molhada.

Quando te vi pessoalmente — aquela única vez —, fiquei tão desconcertada que minha reação foi me afastar rapidamente. Os sonhos a partir de então se tornaram mais frequentes. Você sempre aparecia em meu quarto, vestido em uma calça jeans e uma camisa social preta, sem barba, com o cabelo penteado meio de lado. Eu sempre dormi sem roupas desde a adolescência, mas passei a dormir de lingerie, por sua causa. Usava as melhores que eu tinha, banhava-me pensando em ti e ficava perfumada. Eu me preparava para a sua visita todas as noites. E você vinha. Você me tocava, me beijava, falava coisas românticas e safadas em meus ouvidos, me penetrava com até dois dedos e me fazia desmanchar em sua boca.

Ah, Miguel… eu te sentia em minhas mãos, em minha boca…teu gosto era tão bom. Eu queria tanto te sentir dentro de mim. Mas isso nunca aconteceu. De todos os orgasmos que me fez sentir e que te proporcionei, nenhum foi daquela forma, daquele jeito que mais costumamos sentir. (Imagino que você saiba como é). Afinal, você não é virgem. É Miguel?

Eu sempre senti de verdade todos aqueles orgasmos mesmo que tudo fosse só, sonho. Bem, quase todos. Eu acordava com minhas mãos em minhas regiões de prazer e só abria os olhos depois de todos os espasmos esvaírem-se do meu corpo. Às vezes, a frustração de não ser os seus dedos ali no lugar dos meus, me fazia apenas aprisionar o desejo em meu ser e ir me aliviar com um banho. Eu ficava imaginando se você algum dia me desejaria tanto quanto eu te desejava.

Imaginar você se tocando por mim, pensando em mim, por algumas vezes, foi suficiente para me fazer chegar ao meu limite. Por algumas vezes, pensei em te falar. Pensava em interromper o que dizia e simplesmente te convidar para sair comigo. Se você dissesse sim, eu iria ao teu encontro fácil. Salvador nem é tão longe e, eu tenho milhas. Eu pensava. Mas aí, vinham as dúvidas. Você era tão intimidador, tão fechado que era impossível saber qual seria a sua reação. Além de saber em que você trabalha, eu só sei que você frequenta uma igreja.

A propósito, Miguel, esta minha decisão de falar que te desejo, é pecado? Sou uma pessoa pervertida por sentir o que sinto?” 

Enviei a mensagem. Larguei o celular e fui espairecer. Não tinha estrutura para esperar por alguma resposta que ele pudesse vir a dar, não naquele momento. Quando criei coragem para olhar, meu coração se fechou de vez para este assunto.

— Eu não sei quem é você, Lana.

Era uma tarde solitária. O que eu tinha a perder? Falar, talvez aliviasse meu desejo. Ou me deixasse pior. Eu nunca soube lidar bem com os “nãos”.