Coração acelerado e sentidos apurados em UM DIA PECULIAR
Estou com o coração acelerado. Cada poro do meu corpo transbordando suor. Minha respiração acompanha o ritmo do meu coração. Meus sentidos todos apurados, absorvendo as últimas sensações.
Fecho os olhos e vejo claramente as últimas cenas que vivi. Recomeçando. Uma, duas, três. Mais uma vez.
É um dia peculiar. Estou saindo da casa da minha mãe depois de ter ficado a noite toda com ela. Tadinha. Logo preciso estar em casa. Tifany está sem comida. Eu não posso deixar minha bichinha sem se alimentar. Atravesso agora a rua do segundo quarteirão, antes do penúltimo para eu chegar em casa. Amo esta brisa. Ah, como eu gosto da primavera. Sinto o vento roçar a minha pele suavemente, e sinto-me, agradavelmente livre.
Estou pegando minhas chaves da bolsa. Meus passos diminuem. Eu vejo. Sinto agora um misto de emoções: medo, raiva e…saudade. Paro a alguns passos de distância. Sinto vontade de correr. Quero fugir. Olho para trás e não há ninguém ali. Volto a olhar em sua direção e já é tarde. Estou agora em seus braços, aninhada. Sendo levada.
Minha casa foi aberta. Meus braços estão sentindo o calor da sua pele, que me arrepia. Encosto minha cabeça em seu peito e ouço as batidas aceleradas do seu coração. Coração. Aqui há um coração. Estou sentindo esperança. O meu peito está recebendo esperança. O colchão da minha cama afunda quando sou colocada sobre ele. Sinto suas mãos rasgando a minha roupa. Suas mãos invadem o meu corpo, cada centímetro dele. Sinto raiva, cada vez mais. A esperança está fugindo. Volta aqui, por favor. Sinto o meu corpo enrijecer. Ouço palavrões por isso.
Sinto meu nariz arder e também, o gosto de metal na boca. Estou sozinha? Ouço um miado em algum lugar próximo. Ouço passos vindo em minha direção e vejo Tifany subindo na cama. Meus olhos estão ardendo. Ainda sinto minhas lágrimas escorrer. Tifany é atingida por algo. Ouço mais xingamentos. Levanto-me cambaleante. Vejo seu olhar sobre mim. Sinto coragem. Caminho agora, me afastando, rumo ao banheiro. O espelho. O armário. Os adornos. O espelho. Sim, o espelho. Consigo soltá-lo do encaixe e jogo-o no chão. Meu corpo treme. Minhas pernas estão vacilando. Um soluço sai da minha garganta.
Consigo respirar melhor. Pego um pedaço do vidro. Sinto um pouco de dor e vejo um líquido escuro escorrer da minha mão. Saio com coragem. Atinjo-o com o vidro. Foi na garganta. Suas duas mãos estão lá. Vejo-as sendo pintadas com a cor vermelha. Seus olhos estão me encarando. Estou ao seu alcance. Não me mexo. Por quê? Ouço. Seu corpo desaba sobre o meu. Minha cabeça dói com o contato com o chão. Estou me esforçando para sair daqui. Está muito calor. Sinto-me um pouco dormente. Não consigo afastar-me.
O ar está entrando a conta-gotas por minhas narinas. Estou com o coração acelerado. Cada poro do meu corpo transbordando suor. Minha respiração acompanha o ritmo do meu coração. Meus sentidos todos apurados, absorvendo as últimas sensações. Fecho os olhos, e vejo claramente as últimas cenas que vivi. Recomeçando. Uma, duas, três, quatro. Estou presa e aqui ficarei até o fim.
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