Livro Errantes – Uma Saga de Amor, Perda e Resistência

No livro Errantes, a estreia literária da sul-africana Rešoketšwe Manenzhe, a história de uma família dilacerada pelo racismo institucionalizado transforma-se em uma narrativa lírica e devastadora, onde o peso da lei colonial se choca contra a resistência íntima dos corpos e das memórias.
Ambientado em 1927, quando a Lei da Imoralidade passou a criminalizar relações inter-raciais na África do Sul, o romance acompanha Abram e Alisa, um casal cujo amor já frágil é esmagado pela violência do Estado – ele, um homem branco privilegiado; ela, uma mulher negra jamaicana, filha da diáspora escravizada.
Índice
Ficha técnica do livro Errantes
- Título: Errantes
- Editora: Record; 1ª edição (21 abril 2025)
- Autora: Rešoketšwe Manenzhe
- Número de páginas: 294
- Gênero: Literatura mundial; literatura histórica
- Onde comprar: Amazon
- Livro
- Manenzhe, Rešoketšwe (Author)
- 294 Pages - 04/21/2025 (Publication Date) - Record (Publisher)
O Enredo do Livro Errantes: Entre a Lei e o Desespero
A narrativa começa com uma falsa sensação de segurança: Abram, confiante em sua posição social, acredita que a família escapará das garras da nova legislação. Mas a vigilância estatal não perdoa.
Quando autoridades questionam a legitimidade de suas filhas mestiças na escola e ameaçam confiscar sua propriedade, a ilusão de proteção se desfaz. Enquanto Abram hesita – preso entre o medo e a inércia –, Alisa age.
Seu passado de dor e deslocamento a leva a uma decisão radical, um ato de sobrevivência e ruptura que ecoará como um trauma silencioso nas gerações seguintes.
Manenzhe não se limita a denunciar a brutalidade do apartheid avant la lettre; ela expõe a fratura interna causada pelo racismo, mostrando como a lei não apenas separa corpos, mas corrói identidades.
A jornada de Alisa, em especial, é entrelaçada com rituais ancestrais e mitos iorubás, criando um contraponto espiritual à frieza burocrática do regime.
Seus sonhos e visões funcionam como um portal para discutir a memória coletiva da escravidão, tornando sua história pessoal um reflexo de séculos de diáspora.
Estilo de Escrita do livro Errantes: Poesia e Política Entrelaçadas
A escrita de Manenzhe é sensorial e evocativa, mesclando prosa sóbria com passagens quase oníricas. Seu uso de elementos do realismo mágico – como a presença de espíritos ancestrais e a personificação da natureza – não é um mero artifício estético, mas uma forma de subverter a narrativa colonial. Enquanto a lei tenta apagar a humanidade dos “nativos”, a autora responde com tradições orais que resistem ao apagamento.
Há também uma ironia dolorosa na construção de Abram: seu privilégio racial não o salva da impotência, e sua fragilidade masculina contrasta com a resiliência quase mitológica de Alisa. As filhas do casal, por sua vez, simbolizam o limbo identitário imposto às crianças mestiças – nem brancas o suficiente para serem aceitas, nem negras o suficiente para pertencerem.
Sobre a autora do livro Errantes
Rešoketšwe Manenzhe: A Contadora de Histórias que Encanta o Mundo
Rešoketšwe Manenzhe, autora do livro Errantes, não é apenas uma escritora sul-africana – é uma guardiã de narrativas, uma voz que entrelaça o político e o poético com maestria. Autodenominando-se “uma aldeã e uma contadora de histórias”, ela carrega em sua escrita a força da tradição oral africana, mas também a precisão literária de quem domina a linguagem como ferramenta de resistência e beleza.
- Trajetória e Reconhecimento
Antes de estrear na ficção longa, Manenzhe já brilhava no cenário literário com contos e poemas publicados em revistas como Kalahari Review, FIYAH e Lolwe. Seu talento foi rapidamente reconhecido: venceu o Writivism Short Story Prize (2017), o Dinaane Debut Fiction Award (2020) e o UJ Prize for South African Writing in English (2021), entre outros. Seu nome também figurou em listas de finalistas de prêmios importantes, como o Sunday Times/CNA Literary Awards (2021) e o Collins Elesiro Prize for Fiction (2019, onde ficou em segundo lugar).
Com o livro Errantes, sua estreia em romances, Manenzhe não só confirmou seu lugar entre as grandes vozes da literatura africana contemporânea, mas também chamou a atenção do mercado internacional.
O livro Errantes foi incluído nas listas de melhores do ano de veículos como The New Yorker, Vanity Fair, The Washington Post e Los Angeles Times, consolidando-a como uma autora global, porém profundamente enraizada em suas origens.
Temas e Influências – Sua escrita é marcada por:
- A fusão entre mito e realidade: Ela incorpora rituais ancestrais e tradições iorubás em narrativas que dialogam com questões contemporâneas.
- A denúncia do colonialismo e do apartheid: Seus personagens enfrentam leis opressoras, mas sua resistência é tanto política quanto espiritual.
- A linguagem poética: Mesmo ao tratar de temas dolorosos, sua prosa é repleta de lirismo, lembrando autores como Toni Morrison e Ben Okri.
Por que Manenzhe é uma Autora para Ficar de Olho?
Porque ela não apenas conta histórias – ela as revive, as ritualiza, as transforma em atos de sobrevivência. Se o livro Errantes já a colocou no radar da crítica mundial, seu futuro promete ainda mais: uma voz que desafia fronteiras geográficas e literárias, provando que as melhores narrativas são aquelas que doem, curam e transcendem.
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Conclusão: Um Livro Necessário e Inesquecível
O livro Errantes é mais que um romance histórico; é um monumento literário àqueles que o apartheid tentou apagar. Manenzhe escreve com a urgência de quem sabe que a segregação não é apenas uma política, mas um crime contra a alma. Sua obra lembra Toni Morrison na forma como trata o trauma racial, e Jesmyn Ward na fusão entre o mítico e o político.
Para leitores ocidentais, o livro serve como um convite à desconfortável reflexão: quantas “leis da imoralidade” ainda existem, disfarçadas sob outras formas? E, acima de tudo, qual o preço de um amor proibido quando o Estado decreta quem pode ou não existir?

Imagens: Canva/ Amazon/Divulgação
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